Durante todo o ano de 2018 ficamos aqui pensando “pô, seria muito legal montar uma criptofesta no mato”. Mas nos pareceu que o contexto não era favorável. Ficamos nessa até acabar o segundo turno das eleições quando, de repente, parecia a coisa mais óbvia do mundo a se fazer.
Contexto
Era final de outubro. Precisávamos organizar o evento antes de terminar o ano. Isso nos dava pouco mais de um mês para fazer os contatos, organizar o blog, criar a arte, achar um local e divulgar.
A partir do momento que decidimos que ia rolar, nos sentamos cara a cara, pegamos uma folha de papel e começamos a decidir. Anotamos todos os possíveis contatos para compor as atividades. Pensamos em gente para fazer palestras e oficinas, assim como gente para cozinhar e para ajudar no dia ao longo do evento. Velhas amizades, contatos de contatos, gente recém-conhecida de outras criptofestas. Disso, saíram duas listas de convites e uma convocação (quase garantida) para fazer o almoço.
Nome
Mas antes de tudo, era preciso um nome. Não queríamos nada grandioso, nem homenagem. Queríamos um nome que tivesse a ver com o lugar, mas não o nome da cidade. Resolvemos usar o nome da bacia hidrográfica da região: CriptoFesta do Alto Tramandaí. Aí a abreviação veio automaticamente, CripTRA. Se trava a língua, é porque deve estar carregando em si o espírito da criptografia 😛
Comunicação
Agora, qual seria nossa forma de comunicação e divulgação? A primeira coisa que veio na cabeça foi um blog, e ao mesmo tempo, um e-mail para contato. Sem hesitar, criamos um e-mail do riseup com convites de uma de nossas próprias contas. Se tem e-mail, tem que ter chaves GPG. Criamos as chaves e botamos uma senha longa e aleatória de 10 palavras, criada com dadoware.
Escolhemos ter apenas um e-mail para contato. Entretanto, como todo mundo da organização estaria vendo e respondendo os e-mails, como saberíamos o que já foi visto e ainda precisava de resposta? Para evitar essa confusão, sempre que respondíamos a uma pessoa, mandávamos cópia oculta para nosso próprio e-mail, fazendo assim com que qualquer pessoa da organização soubesse como estavam indo as conversas.
Todos os textos que escrevemos foram criados no we.riseup.net, uma rede social voltada para organizações. Ali, criamos wikis, galeria de imagens, repositório de arquivos, tudo podendo ser modificado, comentado e apagado por qualquer um de nós.
Divulgação
Para o blog, usamos o serviço do coletivo libertário Autistici, noblogs.org. Pegamos o dadoware novamente, e mais uma senha longa e aleatória foi gerada. Publicamos um texto de abertura e dois dias depois subimos a imagem do cartaz. Então, seguiu-se os gifs para divulgação nas redes rápidas e a ideia do adesivo (que não podia faltar :P).
Tendo a parte de infraestrutura digital organizada em mais ou menos 3 horas, começamos a escrever um convite para quem ia dar oficina e palestra e outro convite para o público em geral.
Uma semana depois, com algumas respostas positivas para a composição da programação, vimos que era necessário uma lista para informar massivamente as pessoas interessadas. Eu tinha uma lista do riseup parada e enquanto mudava o nome e a definição dela, outra pessoa bolava o primeiro boletim.
Transporte, alojamento, rango
Maquiné é uma cidade que fica a 1h30 de Porto Alegre e não tem muitas opções de alojamento. Mesmo assim, montamos uma lista dos lugares disponíveis para se hospedar ou acampar. Como eram poucas pessoas, a galera organizou as caronas entre si, só precisamos repassar uns contatos. Também era possível ir e voltar de ônibus para a capital. A comida do almoço e da janta seria feita e oferecida no local a preço sugerido, mas também listamos outras opções da cidade. Uma ideia que se mostrou excelente foi a “mesa do rango livre” onde todo mundo foi convidado a trazer frutas e outras comidinhas prontas para compartilhar (inclusive pessoas que não vieram para o evento comeram o que quiseram).
OPA
Um de nossos objetivos para a criptofesta era criar um espaço amigável e ter um bom número de mulheres participando, tendo em vista que o campo tech é especialmente misógino. Assim, convidamos primeiramente todas as mulheres que conhecíamos da área tech antes de chamar os homens, para que elas tivessem preferência na composição da programação. Além disso, colocamos à disposição a quantia de até 200 reais para ajuda com deslocamento e comida destinada a mulheres. Como resultado, gostaríamos de ressaltar dois pontos: 1) seis das 13 atividades do evento foram puxadas por mulheres, de bordado pixelado a criptografia GPG e tecnopolítica; e 2) a Oficina de Programação anti-Patriarcal teve duas horas seguidas como um espaço exclusivo.
Co-laboração
No dia da criptofesta, nos reunimos pela manhã com nossas amizades e pedimos o seguinte: “precisamos de ajuda para tocar o evento hoje. Então, vamos dar uma faixinha roxa para quem quiser ser voluntária. Isso fará com que vocês sejam reconhecidas e se reconheçam. As tarefas básicas para tudo correr bem são: receber as pessoas, indicar os locais das atividades (área interna, installfest, área externa) e de infraestrutura (cozinha, banheiro), cuidar da limpeza, ajudar na montagem e desmontagem dos espaços, resolver eventualidades por conta própria, ter atenção com assédio e comportamentos ofensivos.” Com isso, nossa intenção era reduzir o peso na organização (2 pessoas!) de fazer todas essas tarefas. E nos pereceu que deu muito certo! Pudemos inclusive participar das atividades.
Não é um bicho de sete cabeças não é mesmo?
Nossa intenção com essa história toda é mostrar que não precisa de muita coisa para fazer acontecer uma criptofesta na sua região. Com esse relato de nossa experiência e outros recursos online (como o site CryptoParty.in) dá para marcar uma data e fazer acontecer! E se tiver alguma dúvida pode entrar em contato com a gente!